2024-02-05

Como se vive por dentro da invisibilidade africana.

«Ninguém sabe como lidar comigo, não se sabe se sou preto o suficiente ou se ando a tentar passar por branco inconscientemente». João, aliás Budjurra, é a personagem principal de Um Preto Muito Português, o livro de estreia de Telma Tvon, agora publicado pela Quetzal, com saída para as livrarias a 22 de fevereiro. Propositadamente uma personagem masculina para que ninguém caísse na tentação de confundir João com Telma.

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Um Preto Muito Português dá voz à realidade do que é ser negro e português numa cidade como Lisboa, que amiúde confunde cor de pele com naturalidade. Uma cidade cheia de contradições com uma relação difícil com a diferença. Budjurra é filho de cabo-verdianos que vivem há muito em Portugal e neto de cabo-verdianos que nunca conheceram Portugal. Também é bisneto de holandeses que mal conheceram Portugal e de africanos que muito ouviram falar de Portugal. Vive em Lisboa, mas não é considerado alfacinha. Terminou a licenciatura e vai trabalhar num call center, com outros negros e brancos, pobres e ricos. Budjurra faz parte de uma minoria que, felizmente, vai sendo cada vez menos minoria.

Num livro cheio de vida e de ritmo, onde não falta a musicalidade do rap e do hip hop, Telma Tvon levanta questões pertinentes acerca de racismo, discriminação, estereótipos, igualdade e humanidade. Mostra como se vive por dentro da invisibilidade da comunidade de raiz africana, como se lida com as narrativas falsas que a envolvem, como se sobrevive aos preconceitos e ao esquecimento.