Espião na Primeira Pessoa
O registo não é realista - é por vezes surreal -, o fluxo da consciência corre livre e anarquicamente, e a identidade é móvel ou constantemente transmutável (o narrador é quem vê, mas também é o outro, o objeto do escrutínio). Mesmo assim, o resultado é muito lúcido: o homem que olha de perto os passos (ainda que mentais), as sensações e reflexões que antecedem o fim do seu caminho.
Sam Shepard trabalhou neste livro até poucos dias antes da sua morte, em julho de 2017, provocada por uma esclerose lateral amiotrófica. Já perto do fim, ditava com esforço e as suas duas irmãs transcreviam. O trabalho final de edição e revisão do livro foi feito com a ajuda de Patti Smith, antiga amante e amiga de mais de 40 anos.