«O Conde de Arnoso devia ser também assim: um dos elegantes do reino, cultíssimo, afável, naïve, cheio de monde, de curiosidade, de uma toillete adequada, dos pecados da época e de vontade de literatura.» Podia ser uma personagem de Eça de Queirós, escreve Francisco José Viegas. «Os seus olhos são os de um ocidental vagamente emprestado ao exotismo.» É um exemplo de como os portugueses de então viam o mundo, numa altura em que o conhecimento que as elites europeias têm da China é quase nulo. Interessam-no as personagens notáveis, os negociadores, o cerimonial, os vasos de porcelana, os templos, a presença cristã portuguesa.
Confrontado com o prodigioso passado da China (as termas do imperador Qianlong, os túmulos Ming ou a Grande Muralha) e com as vicissitudes que o Império do Meio atravessava na época, Arnoso nunca abandona o seu olhar cosmopolita, minucioso, chocado diante da penúria, atento aos pormenores, assombrado perante as ruínas ou a promessa do futuro. Uma viagem da Europa ao grande continente chinês.
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Terra Incognita é o nome da coleção de literatura de viagens da Quetzal. Mais do que livros de viagens com um formato especial, Terra Incognita reúne títulos e autores que desprezam a ideia de turismo e fazem da viagem um modo de conhecimento.