«De um segundo para o outro, até de respirar o corpo se esqueceu. Largado esse hábito, libertou-se de tudo.» Com uma escrita fluída e sensível, Mário Rufino leva-nos numa viagem nem sempre tranquila pela memória de uma família vítimas das circunstâncias. A avó é forçada a cuidar do neto, quase adolescente, quando a mãe lho entrega. Depois de ter sofrido durante a revolução (por estar «no lado errado da história»), de perder tudo e de regressar à vida, tem de cuidar de um neto que mal conhece.
Quando ele entra na adolescência e na droga, a avó procura um emprego para conseguir pagar as contas. Até que a doença muda tudo – é lenta, mas imparável. Ela precisa de cada vez mais cuidados; ele quer começar uma vida nova, mas vai percebendo que morre um pouco de cada vez que a avó se esquece das suas histórias e do seu nome. Para se resgatar, tem de lidar com o passado e com a sua própria culpa. Mais do que isso: tem de aprender a olhar por ela, ouvi-la e guardar as memórias – para a salvar do esquecimento.