Depois de Arte de Amar, Carlos Ascenso André revisita a tradução deste clássico intemporal e sugere uma nova interpretação do seu significado: «Os Remedia amoris eram bem mais do que o divertimento poético que pareciam ser à primeira leitura», sugere, admitindo uma revisão do lugar da mulher, que assume um papel muito mais profundo nestes poemas: «São um prodígio de ironia e uma afirmação do primado da mulher.»
Nestes versos, além de enumerar vários preceitos de grande utilidade para os amantes, Ovídio reafirma o que já antes pontualmente sustentara: o direito da mulher à livre fruição do seu corpo, o seu direito ao prazer, à escolha do parceiro, à infidelidade e ao engano, bem como o seu direito à definição ou rejeição da modalidade preferida nos jogos de amor. «Na relação amorosa quem fica em cativeiro é o homem, é ele quem tem precisão de libertar-se dessa espécie de escravatura. O amor fixou morada no seu “coração cativo”; impõe-se-lhe, pois, que rompa as “cadeias” que o prendem e recupere a liberdade.»