Lisboa foi uma das capitais do mundo no século XVI. Porém, é muito menos conhecido o facto de ter florescido nessa época uma Corte dominada por mulheres, uma autêntica Universidade Feminina, conforme lhe chamaram diversos autores na época. Esta é a história da ascensão e queda desse tempo iluminado pela presença das mulheres, cuja existência o tempo quis eliminar. Eram eruditas, escritoras, leitoras e autoras de filosofia, apaixonadas pela improvisação poética, cantoras e compositoras, exímias dançarinas, proprietárias e organizadoras de valiosas bibliotecas, mecenas de escritores, dominando línguas clássicas como o grego, o siríaco e o latim, autoras de gramáticas de línguas modernas. Princesas, damas e aias, rodopiando em salas, dando conselhos a ministros e embaixadores, argumentando diante dos doutores, correspondendo-se com o papa, colocando no centro do debate a ascensão da mulher e a crítica do poder, o raciocínio sobre o amor e o desejo.
Enquanto essa Corte das Mulheres existiu, brilharam a erudição de Joana Vaz, Públia Hortênsia de Castro e Luísa Sigeia, a música de Paula Vicente, o comportamento irónico e provocador de Francisca de Aragão e Guiomar de Blaesvelt, assim como os versos de Camões, Jorge de Montemor e Francisco de Morais – lidos por Cervantes e Shakespeare. Naquele tempo, os livros de amor gravitaram em torno da Infanta Maria e da princesa Juana de Áustria, num exuberante mundo feminino prestes a nascer.
O que aconteceu a esse século de ouro? A Corte das Mulheres, de André Canhoto Costa, é o livro que as resgata do silêncio.